segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social da Unicamp – O que são as ações afirmativas para a Unicamp?

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) se orgulha de ter um sistema próprio de inclusão social que a diferencia do que outras universidades do país adoaram como ações afirmativas, se utilizando do argumento da autonomia universitária para realizar sua própria política. Ou seja, a Unicamp concorda com a necessidade de se realizar uma política de inclusão social, mas em busca do que acredita ser a excelência da universidade, visa unir as condições socioeconômicas do candidato ao seu mérito.

O que isso significa na prática?

O PAAIS não funciona como as cotas raciais que reservam uma porcentagem das vagas na universidade para negros, pardos e indígenas. O PAAIS funciona com uma bonificação de 30 pontos para os alunos egressos de escolas públicas e mais 10 para os que, deste universo, se autodeclararem negros, pardos ou indígenas.

E aí?

Apesar de muitos estudos explicitarem a relação entre exclusão no vestibular e trajetória socioeconomia, os documentos da Comvest insistem em desfazer essa associação, o que implica em não considerar o vestibular da Unicamp como excludente, apresentando o PAAIS mais como um reconhecimento da desigualdade geral da sociedade e não como um reconhecimento de que as instituições de ensino superior no Brasil reproduzem a desigualdade. Ao partir do pré suposto de que o vestibular da Unicamp não é excludente, estamos presos à ideia de igualdade de acesso para todos. (SOUZA, 2009) “E, tal pensamento é a máxima do pensamento “meritocrático” aplicado ao PAAIS: a igualdade de acesso à realização da prova supõe igualdade de oportunidades”.

A meritocracia é uma ideologia que pressupõe competição e, nessa lógica, longe de promover a justiça social, os que “fracassam” são vistos como responsáveis pelo seu próprio desempenho e não como “agentes de um modelo de relações sociais que perpetua uma estrutura de desigualdades e injustiça social”. Assim, a desigualdade dos negros, pardos, indígenas até chegarem ao vestibular é desconsiderada, perdendo lugar para os que destes já conseguem acessar o vestibular.

E, assim, tudo permanece como antes: a reprodução da exclusão balizada pelo discurso da “meritocracia”, em que o pressuposto do mérito acadêmico não está associado a outros determinantes da vida social que não o escolar. Então, a ideia de que o modelo da Unicamp teria conseguido superar os impasses das propostas “cotistas”, “desracializando” a questão da inclusão social coloca na verdade outra problemática, cuja separação não é menos complexa: a questão do acesso aos aparelhos que permitem uma inclusão plena e equitativa, que no Brasil é atravessada pela questão racial.  (SOUZA, 2009)

Nenhum comentário:

Postar um comentário